Portugal 1758
Apresentação
As Memórias Paroquiais de 1758 inserem-se na prática setecentista de inquéritos com o fito obter um maior conhecimento do território.
Data | Entidade Responsável | Objetivo |
---|---|---|
1721 | Academia Real da História | História eclesiástica e secular do reino e conquistas |
1732 | Secretaria de Estado | Diccionario geografico do Pe. Luís Cardoso (2 vols. publicados [A-C]) |
1756 | Secretário Diogo de Mendonça Corte Real pede informação aos corregedores | Inventariar efeitos do sismo de 1755 |
1758 | Pe. Luís Cardoso | Diccionario geografico (continuação) |
Em geral, na primeira metade do séc. XVIII, quem respondia a estes interrogatórios eram os párocos, e assim aconteceu com o de 1758.
Este inquérito, mais tarde conhecido como «Memórias Paroquiais», retoma o efetuado em 1732 e do qual resultaram dois volumes (letras A-C). A obra em causa intitulava-se Diccionario geografico de Portugal e foi publicada pelo Pe. Luís Cardoso (1697-1769), em 1747 e em 1751. Inaugurou a trilogia organizativa terra/ serra/ rio, que se manteve em 1758.
O coordenador deste interrogatório do início da segunda metade do século XVIII terá sido na mesma o Pe. Luís Cardoso. Depois do terramoto de 1755, pretendia dar continuidade ao seu projeto de dicionário.
Em torno da terra gizaram-se 27 perguntas. Através das respostas é possível saber onde ficava situada, de quem era a jurisdição da localidade, qual a sua população, que título tinha o pároco e quantos eclesiásticos e que rendas tinha a igreja; se havia conventos, hospitais, misericórdias, ermidas e romarias; se tinha alguma feira, privilégios e antiguidades, fontes ou lagoas, ou muralhas e castelo, bem como personagens ilustres. Perguntava-se também pelos serviços de correio, pelas produções da terra e pelos danos do sismo de 1755.
No respeitante às serras, os pontos inquiridos eram apenas 13. O objetivo seria conhecer o nome, dimensões, cursos de água que ali nascessem, ou ainda minas, ervas, plantas e tipo de clima. A existência de povoações, mosteiros e igrejas, gado ou recursos cinegéticos não ficaram esquecidos.
Sobre os rios foram organizadas 20 questões. Apuravam o nome, o fluxo e o volume das águas, a intercessão por outros cursos aquíferos, a navegabilidade, bem como as pescarias, o cultivo das margens e o aproveitamento e propriedades das águas. Inquiria-se também sobre a existência de pontes e se em algum tempo se retirara ouro de aluvião das suas areias.
De notar que qualquer uma das partes encerrava com a recomendação: «E qualquer outra coisa notável que não vá neste interrogatório». Era uma forma de suscitar a descrição de outras particularidades da freguesia.
Globalmente, quando os párocos eram prolixos, o que eles nos legaram constitui um excelente repositório sobre a zona em análise. Uns copiaram de novo as questões, outros limitaram-se a responder de forma ordenada, mantendo o número da pergunta no seu texto. Outros redigiram um texto compacto sobre o inquérito sem assinalar as perguntas.
Ao todo a Torre do Tombo guarda 44 volumes de «Memórias Paroquiais», todos disponíveis online. Na realidade, apenas 41 volumes correspondem aos papéis enviados pelos párocos. A estes somou-se um volume de índices e dois de dados sumários de aproximadamente 500 freguesias. Nestes casos, pretendia-se colmatar a falta de resposta ao inquérito.
Desde há muito que as memórias paroquiais têm despertado o interesse dos historiadores, autarcas, sismógrafos, agentes do património e outras entidades. O seu conteúdo informativo é relevante, com a vantagem de ter sido produzido no mesmo ano para todo o país e a um mesmo nível de observação: a paróquia.
Muitos destes textos têm sido editados em monografias e em publicações periódicas. São fontes dispersas, às quais nem sempre se acede com facilidade.
Desde o início de 2007, a Torre do Tombo permite a consulta online de reproduções dos originais manuscritos, cuja leitura apresenta, porém, alguns desafios a quem não seja versado em Paleografia.
O início da transcrição das Memórias relativas ao Alentejo deve-se ao projeto aprovado pela FCT em dezembro de 2004: «História do Alentejo, séculos XII-XX. Aprofundamentos empíricos» (POCTI/HAR/56210/2004). Depois disso, as transcrições continuaram, graças aos estudantes de Paleografia da Universidade de Évora e a outras pessoas credenciadas na área.
A divulgação online de todo esse material, enriquecido de vários textos entretanto já publicados, começou a ser feita em 2010-2011, com o apoio do Centro de Investigação em Tecnologias da Informação da Universidade de Évora (CITI). Também nessa altura, instituiu-se um sistema colaborativo, denominado «Portugal1758», que produziu bons resultados.
O levantamento total e a respetiva divulgação, com uma série de meta-dados adicionais, para auxiliar as consultas dos internautas, devem estar concluídos em 2019.
Fernanda Olival